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tentativas de refunda​ç​ã​o do universo

by bagatela

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    C70
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1.
Chegava-se ao ciúme da vitamina. Posto ao lado de uma vida de ente alado com pulmões de cinza, tudo se ganhava por olhar a vida como um qualquer crente comparado. Um deísta renascido enquanto vivo, por dormir bem, ter descanso, comer sopas com grelos, ter calma nas reacções. Havia um caminho maior ainda, que vivia na mente, dentro do ser. Isto porque acumular milhas numa qualquer companhia aérea só poupa o desgaste, mas o que se perde… Deixa-se a terra longe. Os sapatos já não andam pintados de ocre. As camisas já não cheiram igual. E os resmungos soliloquiais matinais já não são deixados andar, debandados. Porque andaríamos de sorriso no lábio a desculpar o desinvestimento. A trabalhar no racismo próprio. A repor a balança por ganância paisagista. Ao que se canta e ao que se vê. Plasticina fina de humus privado, dá-me a ganância de livro debaixo de árvore que vi crescer. Eu próprio farei a terra ser.
2.
Baldio encefálico do primo saloio. É ritmo para ir à batalha com os bichos. Num flanco colega de infantário que depois é abordado pela infantaria russa. Como se o passado revolucionário fosse revisitado por praticantes de parkour demissionários a treinar em descampados e edifícios a cair. E porque não se esses foram os verdadeiros heróis da internacional. Essa mesma melancolia é demonstrável enfim.
3.
Há sons de café em que se fala abertamente. Um senhor amarafado enche o casaco com pampilhos de sobra. Caminha porta fora ao autocarro pelas meninas da rua que vendem ideias aos transeuntes. Ninguém compra, nem mesmo o senhor que corre desde a manhã da sua primeira casa para a sua segunda casa com o objectivo teimoso de dar a entender que afinal tem alguma coisa para fazer. Já o tinha feito ontem e no dia anterior e até aos domingos o faz mas não com tanta sofreguidão não vá alguém pensar que o faz por obrigação. Infelizmente hoje acontece que perdeu o comboio. É uma situação muito desagradável porque tinha estado toda a noite em branco a planear tudo ao pormenor mas comboios antes de tempo não são algo que se possa prever. Padece-se na plataforma enquanto as meninas que apregoam pevides lhe perguntam se precisa de um sistema ético. Que este está na moda e em promoção. O homem apoquenta-se com o tamanho da possibilidade e diz: Não tenho dinheiro. E foge pela linha abaixo deitando migalhas ao caminho.
4.
Em alegre consumo passa uma frase legatiante com ritmo maníaco e desconjuntado a responder ao espaço da sala mais tardia da noite onde a razão há muito foi substituída. De aí em diante torna-se premente encontrar um sofá que permita o toque prolongado, e o sorriso cansado de verdadeiro interesse regrado. Estas horas são de consequência incerta. Dependem das sincronizações imencionáveis. Dessas outras venturas que se tem de transportar do íntimo ao passado com o tacto do conluio. Afinal todos foram comidos pelo louva-ao-diabo.
5.
De volta à meninice o bate-sapato deixa-se ficar na tijoleira fria. Encontrou alguns papéis antigos de pensamentos que julgava enormes. Esses que carregou consigo durante anos e que associava ao seu início. Até pensava que os ía reencontrar aqui mas não os viu. São afinal pedaços de tinta lançados sem grande pontaria que o seu pensar já há muito havia polido como memória inenarrável. E afinal confirma-se. Não o é. Debruça-se sobre os papéis e vê coreografias antigas de simetrias essenciais que tem a certeza são da sua autoria. E pensando que talvez as pudesse agora escrever amedronta-se. Não quer mais rabiscos na vida. Passa a memorizar uma memória antiga e espera mais um pouco… pela próxima vez.
6.
Se tudo fosse encantado e desendeusado seria deixado aqui o pagamento da sapiência ao criador. Esse eu que me persegue no meu corpo. Afastado das batalhas mais decentes ele conspira comigo o meu destino seguinte. Falando comigo às apalpadelas e sem compromisso. Em línguas às vezes incompreensíveis que permito discorrer porque sou pacífico com o meu destino. Não tenho medo da morte enfim, mas tenho medo da vida. A morte é o zero que me permitirá o todo inalcançável. E desse descanso saíria literalmente nada que é o que eu sou realmente. Abuso de compromissos servis ao dispor de todos enquanto respiro. Tornar-me-ei no soldado mais descrente. Sem querer nada a não ser o desejo de tudo. Deixem-me portanto permitir-me à minha colorida ignorância que habita no mar alto. E abrupto.
7.
Abaixo do pequeno sol que é o teu candeeiro lembrei-me de um outono longo que passei quase sempre fora. Ficava até tarde ao fim dos dias pelos montes molhados cismado em andar nas terras dos outros como se fossem minhas. Ainda libertei uma ou duas ovelhas presas ao chão por uma corda à terra que as alimentava por esse cordão umbilical inerte que nascia numa farpa de madeira urdida por alguém com a sua própria dignidade. Mas eu não queria saber disso. Nem queria saber que me descobrissem. Sabia fugir e sabia bem onde viviam os coelhos debaixo das urzes espinhosas em caminhos confortáveis na encosta. E aí sería com machados que surpreenderia os caçadores um a um. Retirando as armas aos animais para as usar para mim, para os meus e contra todos os seus amigos. Assim se viveria a vida e se começaria uma vida nova que só a lógica e a cobardia não permite. Mas dessa sofreguidão não se deve falar muito. Porque só dá prejuízo.
8.
Se em todo o lado há entendimento. Saias ao relento. Vestidos em cima de pelos pequenos. Certeza de sensações dos outros. Calores avitaminados de luz. O barro é vermelho no pó. A chuva está presa nas nuvens e a electricidade passa na vista. O suor é saboroso. A repetição torna-se um objectivo com possibilidades. E assim se ganha dia atrás de dia. No espaço invariável acontecem coisas que só agora se repara.
9.
Fui abusado há algum tempo. Já me tentei esquecer. Mas não consigo. Eu fui o principal culpado e fui eu que me abusei. Tentei explicar a mim próprio que não podería ser vítima também, mas eu não queria ouvir. Tenho direitos porra. Fui eu que sofri. Fui eu que levei. Como novo amante de um cão vadio bem dotado teria deixado para trás os meninos do Parque Eduardo VII para me dedicar ao deboche sem risco de vida nem de sida. É assim que se vive à grande quando não se tem viatura. E o cão, esse vadio perseguiu-me até eu desaparecer. Já dedicado ao empobrecimento da realidade. Já a horas dos outros estarem activos. À hora de todas as decências. Afastei-me dorido e sabendo que algo meu jazia morto, qual pele efémera que eu não admitiria ter vestido.

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released February 16, 2016

Artwork by Mathilde Ferreira Neves
Mastered by Vasco Fortes
Synesthetic Proses by Miguel Fonseca

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